A história não contada da construção da Faria Lima

A história não contada da construção da Faria Lima

Hoje, ela é o símbolo do mercado financeiro e da livre iniciativa. Mas a Faria Lima, ironicamente, nasceu de um grande e controverso projeto estatal. Sua construção foi uma saga de visão urbanística, engenharia ousada, disputas políticas e o drama humano de centenas de famílias desapropriadas.

Antes de ser um cânion de arranha-céus, a Faria Lima foi um canteiro de obras que rasgou bairros nobres e mudou a geografia de São Paulo para sempre. Conhecer essa história não contada é entender as fundações, literais e figurativas, sobre as quais o poder da avenida foi construído. O Comércio São Paulo escavou os arquivos para revelar esses bastidores.

 

Os Personagens-Chave por Trás da Obra

A criação da avenida foi fruto da ação de diferentes grupos com interesses distintos.

Personagem	Seu Papel na História
O Prefeito Faria Lima	José Vicente de Faria Lima (prefeito entre 1965-1969) foi o grande impulsionador político da obra. Embora o plano fosse anterior, foi sua gestão que garantiu os recursos e a vontade política para executar um projeto tão monumental e controverso.
Os Urbanistas do “Plano de Avenidas”	A avenida fazia parte de um plano viário maior, concebido por urbanistas para modernizar São Paulo e criar novas centralidades, desafogando o Centro Velho. A Faria Lima era uma peça-chave nesse quebra-cabeça de desenvolvimento urbano, como estudado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP.
As Grandes Empreiteiras	Foram as executoras da visão. Venceram as licitações e enfrentaram os imensos desafios de engenharia para rasgar bairros consolidados, canalizar córregos subterrâneos e erguer os complexos viadutos que conectam a avenida.
Os Moradores Desapropriados	O lado dramático da história. Centenas de famílias de bairros como Jardim Paulistano e Pinheiros tiveram suas casas e terrenos desapropriados em nome do “progresso”. Muitas travaram longas batalhas judiciais e protestaram contra a obra.

 

3 Grandes Desafios da Construção da Avenida

1. O Desafio Político: “Rasgar” os Jardins

O traçado da nova avenida passava diretamente sobre ruas e casarões de um dos bairros mais nobres e influentes de São Paulo. O processo de desapropriação foi um pesadelo político e jurídico, com forte resistência da elite paulistana que não queria ver suas ruas tranquilas transformadas em uma via expressa. A polêmica foi amplamente coberta pela imprensa, como se pode ver em arquivos como o do jornal Folha de S. Paulo.

2. O Desafio de Engenharia: Domar as Águas

O subsolo da região é cortado por diversos córregos, como o Córrego do Sapateiro e o Uberaba. Para construir uma avenida daquele porte e, futuramente, permitir a fundação de arranha-céus pesadíssimos, a engenharia da época teve que realizar obras complexas de canalização e drenagem para estabilizar um terreno naturalmente pantanoso em algumas áreas.

3. O Desafio Logístico: Conectar a Avenida

A Faria Lima não foi projetada para ser uma ilha. Sua integração com o restante do sistema viário da cidade foi um dos aspectos mais complexos da obra. A construção de túneis, como o que passa sob o Rio Pinheiros, e dos viadutos de conexão com as avenidas Rebouças e Juscelino Kubitschek, foi um quebra-cabeça de engenharia de tráfego que definiu a configuração da região por décadas.

Você Sabia?

O projeto original para a Faria Lima era muito mais ambicioso do que o que foi executado. A visão dos urbanistas previa que a avenida se estendesse por vários quilômetros adicionais, em direção à zona sul, conectando-se diretamente à Rodovia dos Imigrantes. Por questões de custo e, principalmente, por causa das imensas dificuldades com as desapropriações, o projeto foi interrompido. A “nova Faria Lima”, na região da Berrini, é, de certa forma, uma continuação tardia e adaptada daquela visão original.

Lições de Grandes Projetos para o seu Negócio

1. Grandes Visões Exigem Coragem: A construção da avenida foi um ato impopular, mas visionário. Nos negócios, as maiores transformações muitas vezes exigem tomar decisões difíceis e de longo prazo que nem todos compreendem no presente.
2. Planejamento é a Base de Tudo: A Faria Lima, apesar das controvérsias, nasceu de um plano urbanístico maior. Antes de iniciar um projeto ambicioso, tenha um plano estratégico claro, com etapas, objetivos e análise de riscos.
3. **Esteja Preparado para os Desafios de Execução:** Toda grande obra enfrenta problemas inesperados (o “córrego” no subsolo). Ter um bom plano de contingência e uma equipe resiliente para resolver problemas é crucial.
4. Considere o “Custo Humano” das Mudanças: A construção da avenida teve um custo social para os moradores. Ao implementar uma grande mudança na sua empresa (uma reestruturação, uma demissão), é fundamental planejar como mitigar o impacto humano.
5. **Legados Levam Tempo para Serem Construídos:** A Faria Lima levou 50 anos para se tornar o símbolo que é hoje. Os projetos mais importantes da sua empresa podem não dar retorno imediato, mas são eles que construirão o futuro e o legado da sua marca.

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A inteligência de mercado que nasce na Faria Lima não precisa ser um segredo. O Comércio São Paulo é a sua sala de estratégia, decodificando o mercado para que você tome decisões com a mesma clareza e confiança dos maiores players da cidade. Esteja à frente. Prepare seu próximo passo.

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Perguntas Frequentes (FAQ)

Quem foi o prefeito Faria Lima?
José Vicente de Faria Lima foi um militar (Brigadeiro) e político brasileiro, que serviu como prefeito da cidade de São Paulo de 1965 a 1969. Ele foi um dos principais responsáveis por tirar do papel grandes obras viárias na cidade, incluindo a própria Av. Faria Lima.

A avenida foi construída durante a ditadura militar?
Sim, a gestão do prefeito Faria Lima e o período principal da construção da avenida ocorreram durante os primeiros anos do regime militar no Brasil (1964-1985).

Existem ainda vestígios da Faria Lima antiga?
Pouquíssimos. O exemplo mais notável é a Casa Bandeirista do Pátio Malzoni. Fora isso, a verticalização foi tão intensa que praticamente todos os casarões e prédios baixos que ficavam no traçado da avenida foram demolidos para dar lugar aos arranha-céus.

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